O Fim de Uma Terra Imaculada
Ao longe, pontos reluzentes surgiam no horizonte. Tão logo
avistaram, os nativos entraram em nostalgia como que imaginando a perda da
pátria. Eram as brancas, enormes e límpidas velas das imponentes embarcações
portuguesas, que deslizavam soberana sobre o revoltoso e poderoso mar
Atlântico; como espelhos os panos soprados pelos ventos fortes refletiam
intensamente o brilho do sol, e os olhos dos índios refletiam medo, pavor e
admiração por aquela nova cena. Em poucos minutos as caravelas e os portugueses
já podiam ser vistos nitidamente e contemplado pelos índios. Ficaram perplexos
e assustados. Jamais viram coisa igual. Aqueles homens coberto da cabeça aos
pés, pareciam de outro mundo.
Na proa, um homem trajando belíssima e finíssima roupa. Usava
um chapéu preto com enormes penas brancas de ganso; de abas longas nas laterais
e finos nas pontas. Na parte anterior do chapéu, um símbolo de um timão e a
insígnia do cargo que ocupava. Este era o capitão da principal caravela e
comandante de toda a caravana. Vestia uma capa longa de ceda de algodão nas
cores verde, branca e preta; com bordados de alta qualidade. Na parte posterior
de sua capa, o mais importante símbolo; uma imagem parecida com uma cruz na cor
vermelha. Em seu pescoço um lenço o envolvia dando-lhe um tom de superioridade
e autoridade; era de cor branca com finíssimas linhas douradas. Por baixo da
capa, percebia-se uma blusa de renda macia e clara, como as mais belas nuvens.
Usava também uma luva verde com detalhes em prata, que lhe calçava
perfeitamente devido à alta qualidade do material. Sua calça de algodão
trabalhado, levemente colada ao corpo; era de cor preta com detalhes verdes e
bordada à mão. Todos estes homens aparentavam ter entre vinte e cinco a
quarenta anos. Fora o capitão, os outros usavam trajes parecidos, porém, de
qualidade inferior. Tinham espessas barbas, algumas bem longas.
Todos eles pareciam felizes. No olhar do capitão percebia-se
que havia surpresa e contemplação. Eram pessoas que demonstravam tranqüilidade,
mais também percebia um ar de angústia devido aos longos períodos no mar. O
capitão tinha uma postura diferente, sempre com o olhar no horizonte, como que
demonstrando sua superioridade. Apesar da felicidade estampada em seu rosto,
era raro o ver sorrir de maneira aberta e com intimidade com os marinheiros.
Todos eles estavam em busca de algo em comum, novas terras e riquezas; eram
gananciosos e dispostos a lutar por terras valiosas mesmo com o sacrifício de
suas vidas. Eram também super patriotas e, levam onde quer que vá o nome de sua
terra, demonstrando o amor que por ela sentem. Eram homens inteligentes e
detentores de um conhecimento impressionante sobre os sete mares deste planeta,
mesmo nunca desbravados. Em seus navios, divertiam-se com lançamentos de
petecas um para o outro e tiro ao alvo, geralmente em aves e pássaros inocentes
que sobrevoavam as caravelas em busca de alimentos.
No entanto, os homens brancos desceram e puseram seus pés
“sujos” em terras puras e virgens. Com armas de fogo, os índios foram dominados
e obrigados a trabalharem para os portugueses. Em pouco tempo, os indígenas,
outrora nus, agora vestidos igual aos lusitanos de um continente onde impera um
reino ganancioso e pressionado por uma sociedade que clama por uma vida melhor
e sem dúvidas por riquezas e futuro próspero. No entanto, dos índios foram
tomados, o que de mais precioso eles tinham; suas terras
Laerte Soares.